Parto normal depois de duas cesarianas, pode?

Ter um parto normal após duas cesarianas é possível e seguro em uma gravidez de baixo risco

É possível, sim, ter um parto normal depois de duas cesarianas. Mas antes de ouvir isso, ouvi muitos nãos! “”Não tente isso””, “”você vai se frustar, pois é impossível após duas cesárias””, ou então, “”isso é loucura, você pode ter uma ruptura uterina””, “”você não está mais na idade de tentar parto normal”” (tenho 42 anos) etc.

Mas fui em busca de informações, de profissionais competentes e não apenas tradicionais, mas que se atualizam e que trabalham com evidências científicas, e aprendi muito. Aprendi que o índice de ruptura uterina entre as mulheres que já tem duas cesárias e as que nunca tiveram são quase o mesmo. E que ter uma terceira cesariana pode ser pior e mais danoso para as mulheres do que tentar um parto normal, se a gestação correu bem. E foi isso que fiz, tentei e consegui um parto normal, vaginal, sem lacerações, e com benefícios pra mim e para meu bebê.

Durante os últimos seis anos venho acompanhando gestantes, como instrutora de yoga, doula e educadora perinatal, então, aprendi muito também com minhas alunas, as doulandas, e mulheres que tiveram suas experiências de parto. Percebi que para ter um parto normal é preciso, antes de tudo, querer e ter um porquê bem claro desse querer. Um parto normal é transformador. É um rito de passagem de mulher para mãe, de corpo e de alma.

E para ter um parto normal após duas cesarianas é importante também ter uma gestação sem intercorrências, ou seja, ser uma gestante de baixo risco.

E mesmo aos 42 anos tive uma excelente gestação, continuei minha vida normal, claro, dando aulas de yoga, doulando, viajei para Índia com 4 meses, e continuei todas atividades físicas, num ritmo menos acelerado, mas sem abrir mão do que fazia. Também fiz um preparo do períneo, musculatura utilizada durante o parto. Usei o epi-no, um aparelho que trouxe da Alemanha, e que aprendi a usar com uma fisioterapeuta especializada no assunto. Agora, depois que aprovei, estamos utilizando também no preparo com outras gestantes em nosso espaço de yoga pré-natal em Santos (Namaskar Yoga).

Para ter um bom parto é necessário um preparo físico e mental também, pois o parto não é somente físico. Nossa mente e nossas memórias interferem muito na hora da dor, na hora de ter autocontrole, e na hora em que entramos na partolândia, ou seja, quando estamos com uma carga hormonal diferente do nosso dia a dia, na hora em que as contrações estão mais fortes.

O que eu queria era um bom parto para mim e para meu bebê, que dessa vez eu fosse a protagonista do meu próprio parto e que não fosse apenas uma “”extração do bebê”” como nas cirurgias que eu tive anteriormente (duas cesárias). Queria que meu bebê também pudesse passar pelos benefícios que um parto vaginal proporciona.

Em primeiro lugar, quando aguardamos entrar em trabalho de parto, ao invés de marcar uma cesariana, os bebês já têm várias vantagens: estão realmente prontos pra nascer. Isso significa, os pulmões estão totalmente formados. Outro detalhe é a quantidade hormonal (ocitocina) que é desprendida durante a passagem do bebê pelo canal vaginal, o que chamamos de coquetel de amor.

E foi isso que fizemos. Aguardamos, eu, meu marido e meus dois filhos mais velhos, Aline (22 anos) e Thales (20 anos). E, então, entrei em trabalho de parto com 41 semanas e 3 dias. Ficamos em casa durante todo o TP (trabalho de parto), pois eu não poderia ter nenhuma intervenção com medicamentos para acelerar as contrações por ter duas cesárias anteriores, então, a decisão de ficar em casa foi bem consciente. Tudo correu bem, mesmo que tenha demorado mais de um dia o meu trabalho de parto.

Avisei minha doula e também a médica que me acompanhava, e ambas ficaram comigo, me ajudando com exercícios físicos, e também a minimizar as dores das contrações com massagens, banhos mornos, mocha, depois, enchemos a piscina, o que também ajudou bem a relaxar. Meus dois filhos ficaram no quarto comigo e meu marido o tempo todo, me dando força, colaborando, ajudando com comidas e bebidas leves, enfim, foi tudo muito emocionante para todos nós.

Lá pelas 22 horas eu estava com 10 cm de dilatação e então fomos para o hospital. Todos foram comigo. Foi a noite mais fria do ano, do dia 22 para 23 de julho. Chovia muito em Santos. Mas eu sentia somente o calor da chegada da minha filha. Chegamos em cinco minutos no hospital, logo tomei uma analgesia, fiz três forças longas e contínuas e Dora coroou. Nasceu linda, forte, com 48 cm e 3.200 kg, de parto normal, com todos meus familiares íntimos presentes na sala de pré-parto, pois nem fomos para o centro obstétrico. Pra mim, isso foi bem importante, pois me senti ainda no conforto de um quarto, sem tantas luzes, nem muita gente estranha por perto, somente minha família e a equipe que eu havia escolhido pra me acompanhar.

Foi uma madrugada de muitas emoções, realizando um lindo sonho, com a chegada de Dora num parto normal depois de duas cesárias, sem episiotomia, sem medicamentos extras, sem pressa. No meu tempo, no tempo que a Dora precisava pra nascer!

Ela nasceu 1h54 e logo cedo tomei banho sozinha. Estava tão bem que pude cuidar com tranquilidade dela, amamentei sem problema nenhum e no mesmo dia voltamos pra casa! Um sonho realizado. Uma mãe feliz, um bebê forte e saudável.

Dedico meu parto a todas as mulheres que procuram informações e fazem decisões conscientes sobre sua gestação e seu parto.


René Schaap, 47, marido ( pai pela primeira vez): “Eu sabia que ser pai era especial, mas foi bem mais do que posso falar. O parto, em si, foi mais do que uma maratona, mas todos juntos não vimos as horas passar. Estávamos dando força, tentando ajudar, e fazer a dor diminuir. Queria que ela nascesse, e então iria ser a reta final, mas não sabíamos quando ia acontecer. Era esperar, com calma, a hora certa. E ela chegou linda! O amor que já sinto por ela é imenso, indescritível.”

Thales Vieira, 20 anos (segundo filho de Adriana): “Foi emocionante participar de tudo. Era um momento muito importante pra minha mãe e consequentemente pra mim. Muitas vezes difícil de ver e ouvir, como filho, mas eu tinha que estar lá com ela. Tive que ter coragem, e queria participar. Era minha mãe, era minha irmã nascendo e depois, cortar o cordão foi algo que nunca imaginei fazer na minha vida, e quando vi tava lá, vivendo uma experiência única, e me senti recepcionando a Dorinhachegando nesse planeta. Foi bom demais no final de tudo. Emocionante!”

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Adriana Vieira

Instrutora de Yoga Pré-Natal, Babyoga, Shantala e Doula Adriana Vieira - Colunista do Guia do Bebê Instrutora de Yoga, pós-graduada em Ha...

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