Sinusite – uma nova epidemia? – parte 2

Conheça em detalhes a sinusite e entenda porque dependendo do caso alguns exames e medicamentos são desnecessários

Para concluir a matéria e para que possamos entender melhor os diagnósticos e os quadros clínicos pelos quais passam as crianças, é interessante conhecer um pouco mais sobre os seios da face.

Então, como prometi há 2 semanas, vamos falar um pouco sobre cada um deles, relembrando que tudo o que ESTÁ EM LETRAS MAIÚSCULAS é ênfase minha.

Ilustração sobre sinusite e seios da face - Foto: Alila Medical Media/ShutterStock.com

Seios Frontais

Estão AUSENTES, AO NASCIMENTO e COMEÇAM a se desenvolver APÓS OS DOIS ANOS. A pneumatização do seio frontal ocorre com maior intensidade ENTRE OS 7 E 12 ANOS, o que aumenta a suscetibilidade da região frontal às fraturas, de tal modo que SÓ COMEÇAM A SER VISIBILIZADOS EM RADIOGRAFIAS A PARTIR DOS 7 ANOS DE IDADE. Esses são os seios da face que dão aquela dor na testa nas sinusites. Então, seu filho de 3 ou 4 anos, quando se queixa de dor de cabeça, muito pouco provavelmente tem esse quadro relacionado a uma sinusite.

Seios Maxilares

São os maiores dos seios paranasais, localizados no interior do osso maxilar, como cavidades preenchidas por ar, que se comunicam com a cavidade nasal através do óstio sinusal maxilar no meato nasal médio. Aparecem como uma pequena canaleta no quarto mês de vida fetal; ao nascimento são pequenos e limitados à porção medial do osso maxilar, com o crescimento, expandem-se e ocupam larga extensão da maxila, alcançando seu máximo desenvolvimento APÓS A SEGUNDA DENTIÇÃO.

A capacidade do seio maxilar é em média de 30 ml no adulto. Ao nascimento o seio maxilar apresenta em média as dimensões 2x1x1 centímetros. O seu crescimento médio anual é de cerca de 2 mm em todos os sentidos. POR VOLTA DOS 12 ANOS o pavimento do seio maxilar está ao nível do pavimento nasal. Aqui são os quadros de sinusite que aparecem com mais catarro e com tosse.

Seios Esfenoidais (esses são menos conhecidos)

São de número variado, dentro do corpo do esfenoide, variam em forma e tamanho, e geralmente não são simétricos. São RUDIMENTARES AO NASCIMENTO e aparecem como pequenas evaginações das cavidades nasais. A PARTIR DOS DOIS ANOS DE VIDA são bem visíveis, ampliam-se para trás e parecem ser formados a partir das células etmoidais mais posteriores. Alcançam seu tamanho definitivo NA ADOLESCÊNCIA e podem aumentar na velhice

Seios Etmoidais (se conhece menos ainda):

Também denominados de células ou vesículas etmoidais já existem ao nascimento como pequenas cavidades cujo conjunto forma um labirinto. São PEQUENAS ANTES DOS DOIS ANOS DE IDADE, e apresentam desenvolvimento rápido ENTRE O 6º E O 8º ANO.

Assim, quando se pede um Raio X de seios da face para avaliar uma sinusite, já dá pra entender que até 3 ou 4 anos não vamos achar NADA, não é mesmo? Aliás essa foi uma das recomendações de um dos cursos que eu assisti no Instituto da Criança do Hospital das Clínicas que ouvi do médico responsável pela radiologia da instituição.

Sinusites

A sinusite então é uma afecção dos seios paranasais ou seios da face. E ela pode ter várias causas e origens e para cada uma delas há um tratamento medicamentoso mais específico. Hoje em dia se fala mais em rinossinusites porque a rinite e sinusite são doenças em continuidade. Podemos ter só a rinite como uma doença isolada, mas a sinusite sem rinite é muito rara.

Mais alguns comentários sobre o que está escrito acima, como informações que vocês passaram:

– Uma das classificações que vale a pena conhecer de sinusites é a que caracteriza pelo seu tempo de duração:

  1. AGUDA: dura menos do que 4 semanas. Os sintomas se resolvem completamente e o quadro termina.
  2. SUB-AGUDA: essa pode durar de 4 semanas a 3 meses. E apesar dessa duração maior, os sintomas acabam e o quadro termina.
  3. CRÔNICA: aqui temos uma duração maior que 3 meses. Mesmo após o tratamento adequado, alguns sintomas podem persistir (tosse, coriza, obstrução nasal). O quadro não termina.
  4. AGUDA RECORRENTE: são quadros agudos (duram menos de 1 mês), com no mínimo 10 dias sem nenhum sintoma, como se tivesse sido curada, mas que depois disso voltam. Só podemos fazer essa hipótese no acompanhamento com 3 episódios em 6 meses ou 4 episódios em 1 ano.
  5. CRÔNICA AGUDIZADA: essa já é a mais chata porque ficam alguns sintomas respiratórios (como uma sinusite crônica) que se juntam a novos (sinusite aguda). O tratamento consegue acabar com os sintomas novos (dos quadros agudos), mas como ele é crônico na base, mesmo após o tratamento adequado, alguns sintomas podem persistir (tosse, coriza, obstrução nasal). O quadro não termina.

– Estudos não mostram que seja melhor dar 14 dias de antibiótico ao invés de 10 dias, para tratar SINUSITE AGUDA (ainda mais abaixo de 5 a 7 anos de idade).

– Quando se fala em sinusite, podemos estar falando de sinusite:

  1. ALÉRGICA – que se trata com antialérgicos e não com antibióticos;
  2. INFLAMATÓRIA – que se trata com anti-inflamatórios e não com antibióticos;
  3. VIRAL – que se trata com sintomáticos (fluidificantes, expectorantes, descongestionantes) e não com antibióticos;
  4. BACTERIANA – essa É A ÚNICA QUE DEVE SER TRATADA COM ANTIBIÓTICOS.

Não sei responder

– Então, se é assim, por que os médicos falaram isso ou aquilo?

Isso é necessário perguntar a eles. Chequem a informação. Sejam muito, muito, muito chatas… rsrsrs. Afinal, eles estão cuidando de seus filhos e são responsáveis por conquistar a sua confiança.

– Se não é sinusite então de onde vem todo aquele catarro?

Seria necessário examinar e avaliar cada caso individualmente para dar essa informação. Mas não dá para ter sinusite em quem não tem seios da face formados ainda.

Comentário final

Não estou bravo… kkkkkkk. Só preocupado em ter que repetir tantas vezes essas informações.

Acho importante que para se tomar qualquer decisão, ou se passar alguma informação, ela seja embasada em fatos, em conhecimentos e em estudos e em livros.

Por isso, quis esclarecer e escrever um material um pouco extenso sim, mas para que não pairem dúvidas e para que todas vocês possam ter as informações e se empoderem do tratamento e acompanhamento que julgarem mais adequados para seus filhos.

Fontes

← releia: Sinusite – uma nova epidemia? – parte 1

Dr. Moises Chencinski

Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo com título de especialista em pediatria pela Associação Médica Brasileira (AM...

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