Crianças estão consumindo mais gordura do que o recomendado

O comportamento infantil é um reflexo do que as crianças observam em casa com os pais

Estudo inédito realizado pela Nestlé em parceria com o Ibope mostra que 33,5% das crianças pesquisadas, na faixa entre 4 e 12 anos, consomem mais gordura do que a recomendação diária nas refeições.
A pesquisa também mostra que 45% das crianças da faixa etária de 10 a 12 anos são sedentárias. Estes e outros dados fazem parte da pesquisa The Infant and Kids Study (IKS), realizada na região metropolitana de São Paulo, envolvendo 1.000 crianças com idade entre 0 e 12 anos, de todas as classes sociais.
Esses resultados foram apresentados na primeira edição do fórum Diálogos de Valor, iniciativa da Nestlé que tem o intuito de promover o debate, por meio de diálogos que gerem valor para a sociedade acerca de temas relevantes, como Nutrição, Água, Desenvolvimento Rural e Fornecimento Responsável, Sustentabilidade Ambiental, Pessoas, Direitos Humanos e Compliance.
Para enriquecer o debate em busca de possíveis soluções, o evento reuniu especialistas e personalidades de diferentes áreas de atuação para comentar os resultados da pesquisa. Entre os convidados, estavam o pediatra e endocrinologista Dr. Raphael Liberatore, a psicóloga Dra. Elizabeth Monteiro, o ex-judoca e atleta brasileiro Flávio Canto e a atriz e mãe Flávia Alessandra.
A pesquisa IKS revelou, entre outros achados, que uma em cada duas crianças está acima do peso. Os resultados confirmam a tendência apontada em dados oficiais. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade e o sobrepeso infantil deverão atingir aproximadamente 75 milhões de crianças no mundo inteiro até 2025, caso nada seja feito hoje para reverter este cenário. Segundo a Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica, a incidência de sobrepeso em crianças de 5 a 10 anos é de 40% na Região Sudeste (ABESO, com base na POF 2011).
A obesidade é considerada uma doença crônica de origem multifatorial, cujas causas envolvem aspectos biológicos, sociais e comportamentais, como os hábitos alimentares e a prática regular de atividade física, entre outros. Vários destes aspectos foram abordados na pesquisa IKS, a fim de mostrar um retrato de como a alimentação, o sedentarismo e o estilo de vida podem influenciar o estado nutricional das crianças.
“O consumo excessivo de gordura, sódio ou açúcar na dieta diária de crianças e adolescentes pode inferir num aumento de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas, como o diabetes tipo 2, hipertensão arterial e aumento dos níveis de colesterol ruim (LDL), por exemplo. Para que tenhamos uma mudança no comportamento dessas crianças, no entanto, além da prática de atividade física regular e uma alimentação equilibrada, é preciso envolver outros aspectos mais amplos, que passem pelas frentes econômicas, sociais e políticas”, afirma o pediatra e endocrinologista da USP, Dr. Raphael Liberatore.
crianças acima do peso - pesquisa Nestlé e Ibope - imagem: adobestock.com
O comportamento infantil é um reflexo do que as crianças observam em casa com os pais e familiares,afirma a psicóloga e pedagoga Elizabeth Monteiro


Sedentarismo

Dados da pesquisa IKS apontam a falta de atividade física no cotidiano: mais da metade das crianças entre 1 e 12 anos está sedentária, ou seja, praticam menos de 300 minutos (5 horas) de atividade física por semana. O problema é maior entre meninas, atingindo 56% deste universo. Na faixa etária entre 10 e 12 anos, o sedentarismo atinge 45% das crianças. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a recomendação de tempo de atividade física praticada na infância deve ser em torno de 300 minutos por semana, o que significa pouco mais de 40 minutos todos os dias.
O estudo também revelou que 75% das crianças entre 7 e 12 anos passam quatro horas ou mais por dia em frente à televisão ou computador, ou seja, o dobro da permanência recomendada. Quando a amostra é ampliada para o universo de 0 a 12 anos, o resultado é de 54% das crianças com mais de quatro horas em frente à tela por dia – a partir dos 2 anos de idade, de acordo com o estudo – o tempo gasto aumenta significativamente. A hora das refeições também é impactada por este comportamento: cerca de 30% das crianças de 1 a 4 anos comem assistindo televisão, lendo, estudando ou jogando videogame no mínimo 4 vezes por semana. Este número dobra a partir dos 4 anos, chegando a 65% nas crianças de 9 a 12 anos.
“O comportamento infantil é um reflexo do que as crianças observam em casa com os pais, que dedicam cada vez mais tempo à televisão, celular e computador. Não podemos responsabilizar apenas a tecnologia, mas devemos ter atenção, uma vez que ela pode influenciar no desenvolvimento físico, social e comportamental de crianças e adolescentes”, afirma a psicóloga e pedagoga Elizabeth Monteiro.
O levantamento realizado no IKS mostra que uma em cada três crianças da amostra, na faixa entre 4 e 12 anos, ultrapassa a quantidade diária recomendada de gordura nas refeições. Dentre as crianças que apresentam esse consumo elevado, ingere-se em média 25,5g adicionais de gorduras por dia, o equivalente a três colheres de sopa de óleo.
Ainda segundo a pesquisa, cerca de 84% do consumo de cálcio está abaixo do recomendado entre as crianças de 9 e 12 anos de idade. Além disso, embora 65% das crianças dessa faixa etária bebam leite, o consumo ainda está muito abaixo do recomendado, correspondendo apenas a um copo por dia, sendo que a indicação é de três copos diariamente.
O alto consumo de sódio também é um dos destaques da pesquisa. Dados do IKS mostram que 77% do consumo de sódio entre as crianças de 9 e 12 anos está acima da quantidade diária recomendada. Na faixa entre 4 e 9 anos, esse percentual é de 71%. Outra observação importante levantada pelo IKS é a de que as crianças de 0 a 12 anos consomem vitaminas A, C, D e E abaixo da recomendação diária.

Hábitos alimentares saudáveis e a prática de atividades físicas

O ex-atleta e medalhista olímpico de judô Flavio Canto acredita que o esporte e a prática de atividades físicas são um importante ativo para a promoção da saúde e da auto-estima de crianças. À frente do Instituto Reação, já beneficiou mais de 1200 crianças ao longo da última década.
“Há muita dispersão hoje em dia e isso pode dificultar a prática de atividade física. As novas tecnologias são um avanço extraordinário, mas em excesso na vida das crianças gera consequências por toda a vida. O sedentarismo precisa ser combatido desde a infância e temos o desafio de reaprender a encantar e inspirar a juventude a se habituar a correr, jogar, nadar, lutar e brincar, em movimento. Nessa missão, os valores e heróis olímpicos são sempre bem-vindos”, afirma o ex-atleta.
A atriz Flávia Alessandra, mãe da Olívia, de 6 anos, e Giulia, de 16, procura utilizar a tecnologia a favor da educação dos filhos e de forma equilibrada. “Somos exemplo para nossos filhos. Sou muito ligada à tecnologia, uso muito o celular, por exemplo, mas procuro educar e orientar as minhas filhas. Lá em casa está proibido ver televisão ou usar o celular na hora das refeições. Não dá pra deixar que a tecnologia interfira na convivência e no diálogo familiar”, afirma a atriz.

Confira algumas estratégias e dicas dos especialistas:

•O fato da criança manusear a comida com as mãos ou com os talheres traz uma proteção em relação à obesidade.
• Transforme o horário das refeições em um momento tranquilo e de aprendizado. Ameaçar a criança para que ela coma vai transformar o momento em algo negativo.
• A questão é familiar. Todo comportamento é aprendido. A hora da refeição NÃO pode virar uma guerra.
• Determinar um tempo máximo e horários para a criança fazer uso da tecnologia, como celular, tablets, computadores e, também, um tempo máximo para assistir TV.
• Faça o dia da fruta; dia do legume; dia da verdura etc, e mostre os benefícios que cada alimento traz ao organismo.
• Não coloque o estômago do adulto na criança, ou seja, não imponha à criança que ela coma a mesma quantidade que um adulto ou do irmão mais velho.
•As crianças não escutam o que os pais falam. Na verdade, elas imitam o que os pais fazem, então, os adultos também deverão rever seus hábitos alimentares e de comportamento.
•O ato da criança se movimentar e mexer nos objetos é o que desenvolve a inteligência, pois ela só reconhece o mundo mexendo nas coisas. Então, tire do alcance dela objetos perigosos ou de valor material ou sentimental e deixe-a explorar os ambientes.

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