Ansiedade infantil: distúrbio afeta aproximadamente 10% das crianças e adolescentes brasileiros

Um ponto a ser observado é a influência da tecnologia já na Primeira Infância. Psiquiatra e educador falam sobre causas, sintomas, além de medidas educativas e médicas para tratar o problema.

A ansiedade, comum e recorrente na vida adulta, atinge 9% de todos os brasileiros, segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde). Porém, o transtorno vem sendo detectado cada vez mais cedo. No Brasil, segundo uma pesquisa recente da Faculdade de Medicina da USP, aproximadamente 10% de todas as crianças e adolescentes brasileiros têm ou irão ter algum tipo de ansiedade em algum momento da vida.

Um fator que também deve ser muito observado pelos pais é a influência da tecnologia, já que segundo um estudo americano, crianças a partir de dois anos de idade, apresentaram ansiedade ou depressão após o contato intenso com jogos virtuais, smartphones e televisão.

Ansiedade infantil: distúrbio afeta aproximadamente 10% das crianças e adolescentes brasileiros

Segundo Roney Vargas, psiquiatra da Aliança Instituto de Oncologia, a maioria das crianças experimenta vários medos. Isso pode trazer a ansiedade durante a infância, e alguns desses medos são específicos do estágio do desenvolvimento. “Em contraste com medos, a ansiedade é definida como uma resposta antecipatória a uma ameaça percebida, tanto interna como externa. Em outras palavras, pode-se considerar a ansiedade como um medo sem objeto, o que é bastante diferente de um medo ligado a uma situação ameaçadora como a presença de um leão na frente da pessoa”, explica o médico.

De acordo com o especialista, transtornos psiquiátricos podem ser algumas causas da ansiedade das crianças, porém não todas. “Do ponto de vista ambiental, há algumas situações com um potencial de gerar ansiedade de forma mais intensa entre os pequenos, como a questão da separação da família para ingressar no ambiente escolar, a questão de falar em público ou, por exemplo, ser submetido a uma avaliação”, esclarece Vargas.

É sabido que a ansiedade por si só é uma emoção fundamental para o ser humano, porque ela representa um transtorno em relação ao desconhecido e, esse transtorno tem uma importância fundamental na sobrevivência das espécies. “Ou seja, ter medo do futuro (e a ansiedade é um tipo de medo) é uma característica importante do ser humano. Mas quando ela se torna exagerada e recorrente ela se torna uma doença. E é hoje uma verdadeira pandemia em todo o mundo”, afirma Paulo Wolker, cientista político, educador e sócio do Instituto Ideaah.

Na maioria dos casos, a ansiedade prejudica o desenvolvimento, seja na escola ou não. “A ansiedade gera encolhimento das capacidades, habilidades e potencialidades das crianças, as torna temerosas, recolhidas. Afeta a alimentação, o sono, a respiração. A ansiedade é um transtorno. Gera tristeza, gera depressão”, pontua Wolker.

Dentro da sala de aula, é comum notar a ansiedade nos pequenos, quando eles não aprendem, não brincam, não relaxam, não se expressam como os jovens deveriam. Segundo o educador, a escola deveria ser, em primeiro lugar, um local de paz. “Onde a criança se sente cuidada e protegida e, por isso mesmo, não tenha medo e nem ansiedade. O mais indicado é que a sala de aula esteja protegida com todas as atividades, ações e dinâmicas típicas desse lugar. Não há uma “atividade remédio” para o medo ou a ansiedade, há ambientes, espaços e locais protetores, onde a criança se sinta cuidada e amparada”, explica o educador.

Quando a ansiedade afeta as relações sociais dos pequenos, há necessidade de sempre realizar uma avaliação clínica com um psiquiatra. Em crianças e adolescentes como regra geral deve-se optar em primeiro lugar por medidas como terapias psicológicas como a TCC ou comportamental, além de estratégias psicoeducacionais. “Somente em casos com impacto considerável no funcionamento da criança deve-se lançar mão de medicações. Todavia, essas ações devem sempre caminhar com medidas psicológicas e educacionais”, conclui o psiquiatra Roney Vargas da Aliança Instituto de Oncologia.

A influência da tecnologia entre as crianças:

Muito tempo gasto em jogos, smartphones e televisão está associado a níveis elevados e a diagnósticos de ansiedade ou depressão em crianças a partir dos 2 anos de idade, de acordo com um novo estudo. Mesmo depois de apenas uma hora de tela diariamente, crianças e adolescentes podem começar a ter menos curiosidade, menor autocontrole, menos estabilidade emocional e maior incapacidade de terminar tarefas, relata Jean Twenge, psicólogo da Universidade Estadual de San Diego e Keith Campbell, professor de psicologia da Universidade da Geórgia.

Segundo Wolker, a tecnologia pode colocar a criança frente a um mundo que sua maturidade, desenvolvimento e entendimento ainda não podem suportar. Esse impacto pode ser devastador para a segurança da criança e pode causar muito medo. Uma cena de massacre coletivo, com vários corpos mutilados de jovens e crianças, que é possível ser visto no Youtube, já é muito impactante para um adulto, imagine para uma criança.

Esse tipo de ansiedade pode gerar uma série de respostas fisiológicas que afetam o sistema cardíaco, pulmonar, gastrointestinal e neurológico. “Além disso, a ansiedade cursa com sintomas cognitivos, como sensação de perda de controle ou perder a cabeça, pensamentos indesejados e intrusivos, desatenção, insônia e mesmo distúrbios de percepção, como despersonalização ou imagens visuais vagas”, esclarece Vargas, psiquiatra.

– 5 dicas que podem ajudar a amenizar a ansiedade dos pequenos, segundo Paulo Wolker:

– Reforçar na criança sempre a visão otimista e positiva da vida e do mundo. Problemas, sejam eles afetivos, financeiros, nunca devem ser expostos à criança.

– Garantir sempre a atenção, o cuidado e a proteção das crianças. Mostrar para os pequenos que eles sempre têm alguém para confiar é muito importante.

– Evidenciar a presença do adulto cuidador como cuidador e protetor. Deixar claro para a criança que os pais ou responsáveis adultos que têm o papel de manter a segurança deles.

– Reforçar o foco da criança no presente, no que ela está fazendo agora, de modo que ela tenha a sua atenção na sua brincadeira, no seu brinquedo, nos seus colegas e não no futuro.

– Cuidar para que a criança tenha atenção consigo mesma, com sua respiração, com o seu entorno, com seu corpo, com que ela está fazendo.

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