A Dislexia, uma abordagem para os familiares

A Dislexia exige da família, amigos e pessoas envolvidas um comprometimento diferenciado e multidisciplinar para que o indivíduo disléxico não sofra no seu desenvolvimento.

A Dislexia é caracterizada por uma dificuldade na aprendizagem da leitura. É definido por ser um distúrbio neurológico em crianças com potencial intelectual normal, porém, que não conseguem desempenhar de modo satisfatório a ação da leitura.

A Dislexia é causada por alterações genéticas e também alterações adquiridas ao longo do desenvolvimento, podendo ser uma combinação de ambas. Pode ser resultado de situações de privação ambiental, oportunidade educacional inadequada (defasagem escolar) e por questões neurobiológicas como má formação do sistema nervoso central em decorrência de algum comprometimento gestacional ou na hora do parto, como também ao longo do desenvolvimento nos primeiros anos de vida.

Quanto a sua epidemiologia, nos países europeus e nos Estados Unidos a dislexia tem freqüências altas, de 3 a 18%. No Brasil, sua uma prevalência é de 12,1% em alunos da 3ª série do Ensino Fundamental em pesquisa realizada em quatro escolas particulares, com 2,4 meninos para cada menina.

O cérebro de uma pessoa que não tem dislexia reage da seguinte forma (observe a figura abaixo): na hora em que a criança está lendo uma área no lado esquerdo é acionada (cor azul), na qual se dá a identificação das letras. Outra parte (cor verde) faz o cérebro entender o significado da palavra e, por fim, uma terceira área (cor vermelha) mais na frente processa toda essa informação. Já uma pessoa com dislexia tem as áreas representadas pelas cores azul e verde menos ativadas do que o normal, então, para compensar isso o cérebro dos disléxicos força a parte da frente (vermelha) a trabalhar mais, e até o lado direito é acionado durante o ato da leitura.

Atividade cerebral de uma pessoa com dislexia e sem dislexia - Imagem: Alila Medical Images/ShutterStock

Pessoas com dislexia apresentam características distintas em seu plano temporal. O plano esquerdo do cérebro de pessoas que não apresentam dislexia é maior que o direito – quanto maior o plano esquerdo melhor é sua capacidade relacionada à linguagem. Em pessoas com dislexia o plano é mais ou menos do mesmo tamanho que o direito, porém, novos estudos indicam que esse plano parece ser menor do que a média, pelo menos em algumas áreas do cérebro.

O diagnóstico se dá por uma ação multidisciplinar que requer um acompanhamento de neurologista, profissionais da medicina, psicopedagogo e pedagogo. Com orientações de um neurologista pode ser realizado um exame de neuroimagem, além de uma avaliação feita por um oftalmologista, já que os sintomas da Dislexia são comuns e facilmente confundidos com problemas relacionados à visão. O exame clínico começa sempre por uma avaliação de visão e audição, e a partir daí é feita uma avaliação multidisciplinar. O psicopedagogo irá verificar os sinais que a criança apresenta e analisar se de fato é um transtorno da Dislexia ou se é um comprometimento devido uma defasagem escolar ou problemas com o ensino.

O portador de Dislexia é planamente capaz de desempenhar diversas habilidades exigidas por múltiplas atividades. Porém, é importante que os profissionais tenham preparo para orientar esse individuo no que tange a sua complexidade, a exemplo de sua neurobiologia que é extremamente determinante para o pleno exercício de suas ações em meio social, principalmente as que requerem habilidades da leitura e da escrita.

Se faz necessário um trabalho diferenciado e multidisciplinar, bem como a cooperação dos familiares, amigos e professores para que esse indivíduo seja incluso e que possa realizar todas as atividades de modo pleno sem se sentir diferenciado por ter uma determinada dificuldade em decorrência de tal transtorno, pois essa dificuldade não pode aprisioná-lo para desempenhar tais ações.

Os pais podem observar se a criança é uma possível portadora da Dislexia caso ela apresente as demais características:

  • Leitura e escrita incompreensíveis
  • Confusões com letras que esteticamente são parecidas (como a letra p e a letra q, ou a letra b e a letra d)
  • Confusões das letras que possuem sons parecidos (como as letras p e q, as letras d e t, e as letras g e j)
  • Inversões de silabas ou palavras (como trocar as palavras “alta” e “lata”)
  • Substituições de palavras com estrutura semelhante (como as palavras “contribuiu” e “construiu”)
  • Subtração ou adição de sílabas nas palavras (como “caalo” ao invés de “cavalo” ou “berla” ou invés de “bela”)
  • Repetição de sílabas ou palavras (como “eu jogo jogo bola”)
  • Dificuldade para entender o texto lido (dificuldade na compreensão de palavra, frase ou texto)

A Dislexia interfere diretamente no sucesso escolar da criança, por isso requer que a escola e família tenham atitudes que não comprometam a autoestima dessa criança (individuo, pois o portador de Dislexia não se restringe a idade). Diante disso, segue algumas dicas que a família deve ter diante de um filho ou parente que é portador desse transtorno da leitura e escrita.

1- Seja claro:

Deixar claro para essa criança (indivíduo) que a Dislexia é um transtorno conhecido, comum e que todos estão aptos para apoiá-lo e principalmente ajuda-lo. Que ele não está sozinho e que tem a todos para fazer com que possa se desenvolver plenamente, tanto no que tange ao contexto escolar quanto ao contexto social

2- Momento de silenciar e de falar:

Dar-lhe atenção especial e estimular o diálogo, pois o portador da Dislexia muitas vezes fica tímido e se retrai, evitando assim o diálogo por receio de não ser tratado bem pelas pessoas. Diante dessa realidade é imprescindível que a família estimule o diálogo, que as dúvidas comuns que todo filho tem possam ser expostas respeitando assim o modo e o ritmo como a criança fala. É uma questão de silenciar para poder escutar seu filho, um treinamento constante de escuta pois toda criança precisa se expor e ela quer ser escutada.

3- Respeitar o ritmo de cada um:

Quando presentear seu filho com algum livro, certifique-se que o livro é indicado para a faixa etária dele. Não se pode exigir que a criança seja igual às outras, pois nenhuma pessoa é igual, cada uma tem sua particularidade – as pessoas também tem ritmos diferentes e é preciso respeitar esses ritmos.

4- Evitar constrangimentos:

Evite impor que a criança leia em publico e, caso seja necessário, é importante dar um tempo para que ela possa se preparar e ter confiança, evitando constrangimentos e frustrações. É importante que os pais também orientem a equipe pedagógica em relação a isso, pois o constrangimento é muito negativo para o desenvolvimento da confiança e da autoimagem do ser humano.

5- Destacar os pontos positivos de seu trabalho:

Essa atitude estimula a criança a continuar produzindo e estudando. Elogiar uma pessoa não é ruim, não estraga a pessoa, ao contrário é muito importante pois auxilia na construção de sua auto-imagem. Além de ser uma motivação para que essa criança continue a se desenvolver bem e plenamente suas atividades.

6- Aceitar os erros e distrações:

Não somos perfeitos por isso erramos. Pai e mãe também erram, então, por que os filhos tem que ser perfeitos? O que tem que ser (quase) perfeito é o seu amor por seu filho. Se seu filho errou, se distraiu e não se saiu bem numa prova ou na hora de uma leitura, tudo bem, afinal é importante tentar e continuar sempre tentando, pois as experiências também são uma aprendizagem.

A leitura para quem é portador de Dislexia não é uma atividade fácil, pois como vimos, por questões neurobiológicas, requer um esforço maior. Além de que ler não é só um ato mecânico, pois também envolve compreensão o que nem sempre é fácil para o portador da dislexia, por isso o apoio da família é fundamental.

7- Busque ler com seu filho e conversar sobre o que foi lido:

Pegue uma notícia pequena ou um pequeno texto e leia para seu filho, depois conversem sobre o que foi lido para auxiliar na compreensão da leitura e estimular o pensamento crítico da criança. Com o tempo, leia em conjunto com seu filho, de forma calma e respeitando o ritmo dele e continue sempre dialogando com ele sobre o que foi lido, qual a opinião dele, deixe-o livre para falar. E não esqueça também de treinar a habilidade de escutar o outro.

Mais informações:

ABD –http://www.dislexia.org.br/

AND –http://www.andislexia.org.br/

APAD –http://www.apad-dislexia.org.br/

Instituto ABCD –http://www.institutoabcd.org.br/

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