A chegada do caçula

Para o irmão mais velho a chegada do caçula pode significar muitas perdas, cabe então à família mostrar que isso não é verdade.

A notícia de que a família vai aumentar geralmente é recebida com muita alegria por grande parte dela. Mas, nem por todos. Quanto menos idade tem o irmão mais velho, mais difícil é a aceitação dessa novidade.

Sabendo disso, os pais podem e devem tratar o assunto sem muito alarde de início. Informem que terão um novo bebê na família.

A criança terá a princípio muitas dúvidas, perguntas, inseguranças, sentimentos dicotômicos e paradoxais. Ao mesmo tempo em que vai adorar ter um novo irmãozinho sentirá inveja, raiva e ciúmes. “Que legal um irmãozinho para brincar!”; “Que raiva, ter alguém pra dividir minhas coisas e a atenção!”; “Que lindinho!”; “Que monstrinho!”. Por isso, dependerá da sensibilidade dos adultos que a cercam, o sucesso na apresentação do novo membro da família, para que o fato seja recebido sem crises, ou pelo menos com elas minimizadas.

Criança segurando com carinho a barriga da mamãe grávida - Foto: Andresr/ShutterStock

Uma conversa verdadeira, apresentando como será a nova rotina, acalma muitas vezes o primogênito, pois um dos grandes temores é a ideia de que ele será descartado, trocado pelo caçula ou abandonado.

Uma boa estratégia é descrever o dia a dia: “O bebê vai nos trazer muitas alegrias e você vai gostar de ter um irmãozinho. Quando ele crescer um pouco, você vai poder brincar com ele e ter um companheiro para todas as horas. Mas, ele também, às vezes, vai incomodar um pouco. Vai sujar as fraldas, molhar os lençóis, chorar… A mamãe e o papai terão que cuidar dele, dar banho, mamadeira e você poderá nos ajudar, e muito, se quiser. No começo ele vai precisar muito do nosso tempo, pois ele não saberá fazer nada sozinho. Quando você era bebê também foi assim. Nós vamos continuar amando muito você e seu irmãozinho também!”. Quando a criança entende que continuará fazendo parte da família e que está inserida nos planos futuros irá reagir positivamente, diminuindo a tensão familiar. Evitem ainda usar termos como: agora você é mocinho; deve fazer isto ou aquilo. Ele precisa também sentir que continua sendo cuidado, pois ainda é pequeno e adora ser o bebê da casa.

Mesmo tomando todas as precauções, conhecendo o que se passa pela cabeça da criança, ainda assim não é uma fase fácil de ser transposta. A criança terá ciúmes, sentimentos de abandono e rejeição. Deem abertura para que fale sobre o que está sentindo, não menosprezem seus sentimentos, não digam que o que está sentindo é bobagem, pois para ela é muito intenso. Desta forma, a criança não se sentirá culpada quando sentir raiva ou ciúmes. Ela sentirá segurança para expressar sua angústia e como vocês já se colocaram à disposição, vai se comunicar com vocês com intimidade e confiança.

A regressão também é comum nestes casos. A criança que volta a se comportar como um bebê, com a linguagem infantilizada, pedindo chupeta, mamadeira e fazendo xixi na cama, tenta despertar, desta maneira, o interesse por ela, já que o bebê age assim e tem toda a atenção voltada a ele. Sejam tolerantes, pois são comportamentos temporários e a criança precisa vivê-los para, então, superá-los.

Essas reações são naturais, fazem parte do crescimento e são passos importantes no desenvolvimento psicológico da criança. A ausência delas pode ser preocupante, pois pode indicar que ela esteja se sentindo tão ameaçada e reprimida a tal ponto que não consegue expor seus sentimentos.

Muitos dos comportamentos agressivos aparecem não só tendo o novo bebê como alvo, mas também a mãe, o pai ou outros adultos que convivam mais proximamente com a criança.

Especialistas afirmam que o sentimento que o irmão mais velho experimenta com a chegada de um irmão é similar a dor que uma mulher ou homem sentem ao descobrirem a traição do companheiro. Para ele, analogicamente, se os pais optaram por ter outro bebê é porque ele, o mais velho, não serve mais e por isso, será trocado e deixado de lado. Claro que sabemos não ser assim, mas se as pessoas ignoram seus sentimentos, fingem que nada está acontecendo, a fantasia que irá se construir no imaginário do mais velho é muito mais terrível do que a realidade palpável vivida após o real nascimento. Assim, o fato de descreverem a rotina como descrito acima pode diminuir muito a ansiedade e o temor da chegada do bebê.

Outra dica é evitar grandes mudanças na época do nascimento do caçula. Se os pais pretendem colocar o mais velho na escola, devem fazer isso alguns meses antes do nascimento ou então deixar para alguns meses depois para que ele não vincule um fato ao outro, tornando a sensação de rejeição ainda maior. Vale o mesmo raciocínio se pretendem ceder o berço ao pequeno e trocar o quarto do mais velho.

Não forcem tampouco o mais velho a doar seus brinquedos ao bebê, mesmo que não os use há muito tempo. Ela já teve de perder e dividir muitas coisas.

Todo esse turbilhão de atos e sentimentos tende a diminuir com o decorrer do tempo e em alguns meses o mais velho perceberá que está realmente integrado à família, que faz parte dela e então começará a costurar e avaliar sua própria relação com o bebê regada a muita cumplicidade, amizade e, porque não, rivalidade natural entre irmãos.

E o casal também volta à rotina….

O casal precisa de um tempo para si e querer, verdadeiramente, aos poucos voltar à rotina de casal. Procurem reservar uma noite a cada 15 dias por exemplo. Claro que não é fácil, pois fica a preocupação com as crianças. Mas, é exercitando que se supera esta dificuldade também. Um tempo para dividir momentos de relaxamento, namoro e diversão é muito importante para o casal. Procurem sair e diversificar os assuntos. Certamente estes encontros darão uma energia extra para superar a nova rotina de casa.

Finalmente, preparando bem o ambiente, o filho mais velho e a família para enfrentar estas mudanças antes que apareçam certamente as ansiedades e dificuldades serão muito menores e mais facilmente transpostas!

Karen Kaufmann Sacchetto

Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento;Especialista em Distúrbios de Aprendizagem;Psicopedagoga;Pedagoga;Consultoria pedagógica e Tutoria ed...

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