Natação para bebês e crianças, quando iniciar? – parte 5

A natação é mesmo um remédio para a asma? Quem tem alergia pode frequentar piscina tratada com cloro?

Como foi colocado logo no começo dessa nossa série, o tema é polêmico. Recebi contatos e mensagens por aqui, pelo facebook, pelos meus e-mails para debater sobre o assunto. A maioria foi de instituições ou profissionais da área de educação física e com experiência em natação infantil.

As abordagens foram sempre muito respeitosas e pudemos trocar ideias expondo quais são as nossas condutas e reafirmando que a informação aqui se restringe à questões de saúde. De forma alguma, eu me colocaria aqui a discutir técnicas ou qualquer outra situação que não estivesse na minha área de atuação, mesmo que, como pediatra, tenha que conhecer algo além para poder conversar com os pais e orientá-los da melhor forma possível (mas dentro dos meus limites).

Assim, nesse (quase?) último “capítulo” dedicado à natação infantil (acho que vai ser, só posso garantir no final dele… rsrs), quero focar em algumas questões específicas sobre indicações e contraindicações da prática de natação para se levar em conta quando os pais forem optar por essa ou por outra prática esportiva.

Criança com sua mãe dentro da piscina - Foto: Ales Liska/ShutterStock.com

Otites e natação

De acordo com profissionais da área (otorrinolaringologistas), pela característica anatômica das crianças, as tubas auditivas (canais que ligam a parte do fundo do nariz com a orelha interna – a que fica atrás, pra dentro, do tímpano) são mais horizontalizadas na criança (10º enquanto que em adultos essa inclinação é de 45º). Assim, uma infecção localizada no nariz tem muito mais facilidade de atingir a orelha média em uma criança do que em um adulto. Aqui estamos falando de uma otite média aguda.

Já em casos de otite externa (quadro que acontece na parte da orelha que vai da orelha externa – pavilhão auricular – até o tímpano – pra fora dele, em contato com o meio ambiente), a dor é localizada imediatamente pelas crianças que levam as mãos ao lado inflamado.

Em crianças que praticam a natação, a umidade que entra e fica na orelha externa, mesmo que em uso de protetores auriculares, que normalmente não vedam completamente a entrada da orelha, pode provocar a inflamação. O ideal é secar adequadamente a orelha logo a seguir da prática. Porém, não se deve introduzir as hastes flexíveis com algodão dentro do conduto auditivo (nem dedo, nem grampos, nem palitos, nem tampa de canetas… rsrs) pelo risco de contusão tanto das paredes desse conduto quanto do tímpano. Assim, depois do banho, apertar levemente a toalha contra a orelha para tirar o excesso de umidade é suficiente.

O próprio CDC (Centers for Disease Control and Prevention) dedica atenção ao que é conhecido como Orelha de nadador (Swimmer’s ear) que, ainda segundo o órgão, é comum e responsável por cerca de quase 2.5 milhões de visitas médicas por ano e por meio bilhão de dólares de custo em saúde, especialmente em crianças.

E os sintomas podem variar desde simples coceira na orelha afetada, até sinais de inflamação importante com dor intensa, vermelhidão e inchaço, chegando até a saída de pus da orelha afetada.

Questões respiratórias

A natação, até por ser considerada um esporte completo, traz consigo muitas informações e, também, muitos mitos e muitos questionamentos. Sempre muito recomendada para pacientes asmáticos, pelos benefícios respiratórios, muitas vezes acaba trazendo mais problemas e poucas soluções. É necessário compreender qual a intenção da natação no auxílio do manejo da asma.

Uma das perguntas mais comuns que costumamos responder em consultório é qual o tipo de piscina deve ser escolhido para evitar problemas de alergia e infecções.

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, a natação pode beneficiar pacientes com alergia respiratória “quando praticada em ambiente quente e úmido e em piscinas que utilizam métodos como a ozonização ou a radiação ultravioleta para a desinfecção da água. Em piscinas tratadas com cloro, os gases cloraminas (substâncias tóxicas resultantes da reação do cloro com impurezas da água) irritam a mucosa das vias aéreas, causando crises de tosse e chiado, principalmente nas crianças mais sensíveis e nos lactentes”.

O cloro, reconhecidamente, age como irritante de mucosas (respiratória, olhos) e da pele e pode desencadear crises alérgicas (asma, rinite, dermatite), chegando a triplicar as chances de doenças respiratórias em crianças sensibilizadas para alergia, em práticas mais prolongadas.

Assim, a piscina ozonizada é a mais indicada para alérgicos (“combate bactérias, algas, fungos e vírus e é considerado o mais eficaz e seguro método de tratamento de água”).

Para que o ar inalado não traga problemas para nenhum de nós, é necessário que ele passe pelo nariz, seja umidificado e aquecido e, só então, vá aos pulmões. Ar frio e seco pode levar a broncoespasmo e crises de rinite. A respiração mais rápida, que pode ser causada pela prática de esportes, incluindo a natação, pode dificultar esse processo.

A pele também pode ser afetada pelo cloro das piscinas, ressecando-as e agravando quadros de dermatite atópica. Assim, é fundamental que, antes de se iniciar a prática da natação, bem como de qualquer esporte, cada criança passe em uma avaliação com seu pediatra para analisar o momento adequado e o esporte mais apropriado para cada caso.

Quando se apregoa a natação para melhora do quadro de asma, é importante saber até que ponto essa atividade física se encaixa em sua ação. O problema do asmático é a expiração. O ar entra sem problemas. Para eliminar o ar que a criança inspira (ou o adulto) é necessário que a árvore respiratória (brônquios, bronquíolos e alvéolos) se contraia pra expulsar o ar sob pressão (expiração).

O asmático vive em regime de broncoespasmo, ou seja, fica difícil uma maior pressão para eliminar o ar da forma normal (expiração). Assim, ele utiliza uma musculatura acessória (tórax e abdome) e faz uma expiração forçada e prolongada (característica da crise de asma). A natação ajuda a exercitar essa musculatura acessória na eliminação desse ar.

Isso quer dizer que, a criança precisa aprender a nadar e a respirar de forma adequada, e os músculos precisam ser exercitados. Uma hora de aula de natação, duas vezes por semana, não só não ajuda a emagrecer ninguém que coma excessivamente, como não resolve essa questão respiratória.

E é importante que se saiba que a natação é uma excelente atividade física e pode, em determinadas condições de prática, ajudar de fato o asmático. Mas não se pode atribuir à natação a responsabilidade de resolver esse quadro.

Pra variar, me estendi demais e não consegui acabar a matéria hoje. Mas é importante que se conheçam os riscos e as adaptações necessárias para que, com todo o potencial benéfico que a natação tem, ela não se transforme em um problema de saúde e possa propiciar todos os benefícios, que não são poucos, a que ela se propõe.

Mas semana que vem eu juro que acabo e dou minha opinião sobre o tema. Até lá.

Esse artigo faz parte de uma série, para ver as demais partes, acesse:

Dr. Moises Chencinski

Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo com título de especialista em pediatria pela Associação Médica Brasileira (AM...

Veja o perfil completo.

Deixe um comentário