Não confunda letra feia com Disgrafia

A disgrafia é um Transtorno de Aprendizagem de origem neurobiológica que afeta de 2 a 3% da população

Antes dos computadores e tablets era comum os pais darem um caderno de caligrafia para as crianças, que passavam horas treinando para ter a letra bonita. Por conta do uso constante do teclado, os pequenos perdem cada vez mais a habilidade de escrever. No entanto, a família deve estar atenta às letras dos filhos em idade escolar, pois ter a letra feia pode ser mais do que preguiça de escrever. Pode ser disgrafia.
A disgrafia é um Transtorno de Aprendizagem de origem neurobiológica que afeta de 2 a 3% da população. Segundo a psicopedagoga Luciana Brites, da NeuroSaber, esse problema pode vir sozinho ou acompanhado por outros transtornos de aprendizagem como, por exemplo, dislexia, transtorno não verbal, além de outros neuro-comportamentais, como Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
De acordo com a especialista, uma das caraterísticas da disgrafia é a dificuldade crônica e persistente na habilidade motora e espacial da escrita, levando a uma expressão gráfica inadequada e deficitária. Outro fator é a dor ou incômodo frequente para escrever, pressão excessiva no lápis e no papel, troca constante de letra ora cursiva, ora bastão.
A diferença de letra feia e disgrafia é que a primeira vai melhorando com a idade e com as intervenções, ou quando se pede para escrever com calma, a ponto de um dia a escrita se tornar caligráfica, ou seja, perfeita. Já a disgrafia expressa uma grafia sempre ruim e alterada e que gera um constante desprazer e incômodo em quem escreve – mesmo atingindo a idade prevista para escrever adequadamente.
letra feia é diferente de Disgrafia - Foto: StockSnap
A psicopedagoga diz que para ajudar a desenvolver a habilidade do aluno e melhorar o desenvolvimento escolar é importante um bom trabalho de esquema corporal, onde se percebe as partes do corpo, braços para chegar até as mãos. Outra dica é ligada a atividades de fortalecimento das mãos e dos dedos. Ela aconselha o uso de massinha, por poder trabalhar com a mão inteira. É possível amassar o material com alguns dedos, fazer objetos e formas desenvolvendo habilidades do aluno.
Pintura com tintas, por exemplo, também é interessante. Pode-se fazer atividades com giz de cera, pintura com guache utilizando os dedos, pincel e esponja. O bom é que essas atividades podem ser feitas no papel, tanto na horizontal (em cima da mesa ou no chão) quanto na vertical, colando o papel na parede e pedindo para as crianças desenharem ou pintarem.
Luciana também ressalta a importância da utilização de brinquedos de montar, como, por exemplo, Lego, quebra-cabeças e encaixes. Ela observa também que as atividades de percepção visual também devem ser feitas com os pequenos.
Muitas pessoas não sabem, mas o que guia a mão é o olho, por isso invista em atividades como o jogo dos sete erros, ligue os pontos, brincadeiras com bolhas de sabão, bolas onde a criança tem que acompanhar o movimento das coisas e pegar com a mão.
Brites comenta que o tratamento deve ser multidisciplinar e acompanhado por especialistas, como médico neuropediatra, psiquiatra infantil, psicomotricista, terapeuta ocupacional, psicopedagogos, fonoaudiólogos e psicólogos. Em alguns casos é necessária a medicação quando, por exemplo, existem comorbidades com o TDAH.
Para a profissional, é fundamental para o tratamento dos pequenos que os pais e professores possam buscar conhecer melhor o transtorno. Outra dica é nunca comparar a criança com outras. “Nunca compare seu filho ou aluno com ninguém. Só o compare com ele mesmo, como quando ele não conseguia e conseguiu algo”.
Reconheça todo e qualquer esforço, proponha atividades com mínimas possibilidades de errar e converse sempre com ele sobre suas dificuldades e como podem juntos melhorá-las.

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