Criança e Gordura

A obesidade na infância ainda não é vista com seriedade pelos pais que acreditam que na adolescência tudo se resolverá. Será?

ATENÇÃO!
Até o sexto mês de vida o bebê deverá ser alimentado exclusivamente com o leite materno. Ele não precisará de água ou chás. Qualquer mudança nessa regra deverá ser feita com orientação do seu pediatra.

Criança e gordura

O bebê gordinho é bonito. Mas a criança pequena obesa é um problema que não deve ser descuidado pelos pais, porque a obesidade é uma doença e pode ser uma doença grave.

Há três graus de obesidade, segundo os endocrinologistas: a leve, a moderada e a grave.

A obesidade infantil não pode ser tratada apenas com proibições ou restrições alimentares, com dietas inventadas na família, sugeridas por parentes e amigos ou publicadas na imprensa. A obesidade da criança só se cura com um diagnóstico que identifique as razões do problema, e com uma bem planejada terapia interdisciplinar, capaz de permitir que ela perca peso sem perder a saúde, o prazer de comer e de ser criança.

Em um encontro no Rio, em 1995, sobre endocrinologia pediátrica, o Dr. Robert Suskind (da Universidade de Louisiana, em Nova Orleans) disse que a criança gorda tem problemas psicológicos, mesmo quando não aparenta e quando é alegre e brincalhona. Em quase todos os três mil casos que já examinou, os gordinhos têm um problema de auto-imagem e de auto-estima. E eles precisam de exercícios físicos. Por isso mesmo sugere que o caso seja sempre entregue a um endocrinologista pediatra que tenha na equipe um psicólogo, um nutricionista e um preparador físico.

Segundo ele, assim que os pais perceberem que a criança pesa mais do que o normal, devem imediatamente procurar um médico, que dará uma orientação terapêutica específica. É importante ressaltar que cada criança apresenta um tipo de problema, que será tratado adequadamente de acordo com o seu estágio de obesidade , seu índice de massa corporal e seus níveis de colesterol.

Na infância podem estar os primeiros sinais de futuros problemas cardíacos: a criança gorda, segundo o cardiologista Carlos Scherr, costuma ter níveis altos do chamado mau colesterol (o LDL) e níveis baixos do bom colesterol (o HDL). No adulto, esse desequilíbrio aumenta os riscos de formação de placas de gordura nas artérias e o consequente infarto. Pouca gente sabe, mas crianças também sofrem de infarto, especialmente as muito gordas.

A aterosclerose do adulto tem suas raízes na infância. Por sua vez, há uma base genética que predispõe níveis altos de colesterol na infância. Hábitos alimentares errados vão desencadear ou agravar o problema. Níveis altos de colesterol LDL predispõem à aterosclerose.

É bom reconhecer que há fortes elementos genéticos e/ou constitucionais na predisposição à obesidade. Cabe ao pediatra ou ao especialista encontrar as estratégias mais adequadas para lidar com o problema. A criança gorda tem muita fome e gosta mais das coisas que mais engordam porque está geneticamente programada para isso. A que está programada para ser magra tem pouca fome; e os baixinhos tem menos ainda.

Cada caso exige uma avaliação cuidadosa porque há muitas causas para as variações do normal, tanto no peso quanto na estatura.

A ideia, muito comum, de que a criança gorda emagrecerá na puberdade, sem esforço é falsa. Sem reeducação alimentar, só 30% dos gordos infantis perdem peso na puberdade, ou seja, em uma sala de aula do ensino fundamental com 30 alunos, apenas 9 farão o ensino médio com peso menor enquanto que os outros 21 alunos continuarão obesos e sofrendo todas as consequências de ser um gordinho na adolescência. Como a obesidade é um problema de saúde, quanto mais cedo for enfrentado, melhor para a criança que, além de ser vítima da implicância e dos apelidos, geralmente rejeita a própria imagem, tem baixa auto-estima, foge das atividades físicas e corre o risco de diabetes, hipertensão e problemas cardíacos.

Criança obesa na sala de aula - foto: Zurijeta/ShutterStock.com

Para emagrecer a criança precisa estar motivada. Vítimas do fast-food, ela precisa estar bem informada para aceitar um programa (e não uma simples dieta obrigatória) baseado no tripé nutrição, atividade física, acompanhamento psicológico.

A criança precisa de incentivos e de estímulos para participar do tratamento e deve ser capaz de calcular, sem a ajuda dos adultos, quantas calorias está consumindo ao comer um hambúrguer ou uma pizza.

Os pais devem estar alertas para os exercícios físicos indispensáveis: até a puberdade, nenhuma criança deve fazer exercícios que forcem as articulações ou a coluna, o que quer dizer que as artes marciais não são para criança. Caminhadas longas são melhores do que qualquer esporte, mas o esporte ajuda a motivar a criança.

Várias pesquisas indicam que crianças que passam muitas horas vendo televisão ou jogando no vídeo tem mais tendência a engordar. É que a atividade metabólica fica reduzida, a criança não queima as calorias que come e acaba engordando.

Caminhar, pedalar, nadar e correr são os melhores exercícios. Uns 15 minutos de caminhada já queimam 77 calorias (o equivalente a um ovo cozido). Pedalar 28 minutos queima uma fatia de pizza de mussarela, 180 calorias. Nadar durante 10 minutos queima 106 calorias, uma garrafa média de refrigerante. E correr seis minutos queima as mesmas 106 calorias.

Para a criança, o melhor é caminhar e pedalar, atividades aeróbicas em que o movimento contínuo não força as articulações, sendo ideais para qualquer idade. Nadar é a atividade predileta dos gordinhos, mas não se pode deixá-lo abusar para não ficarem com problemas nos ombros. Correr é mais adequado para adolescentes, por causa do impacto.

É muito importante que os pais de gordinhos aprendam a administrar a própria ansiedade, para que não se transformem em fonte de tensão para os filhos que precisam emagrecer. A pressão psicológica sobre a criança pode causar um efeito negativo: a criança se frusta por não ter o padrão físico desejado pelos pais e acaba comendo compulsivamente, por pura ansiedade, engordando cada vez mais.

O apoio psicológico, para os pais e para a criança é importante, porque ajuda a controlar a ansiedade e as tensões, facilitando também mudar padrões de comportamentos que engordam.

COM SABOR E POUCAS CALORIAS

A obesidade é o resultado de um desequilíbrio: muita energia é consumida (em forma de alimento) sem um gasto equivalente. Ou seja, a pessoa não consegue queimar as calorias obtidas através da comida. O organismo, então, transforma o excesso de calorias em gordura.

A criança que, desde cedo, estabelece um padrão de superalimentação, pouca atividade física e obesidade corre o risco de apresentar sérios problemas de saúde no decorrer da vida. Como doenças cardíacas e diabetes.

O consumo exagerado nos fast-foods, ricos em calorias, mas com pouquíssimos nutrientes torna o pequeno mal-alimentado. Afinal, ele precisa de nutrientes essenciais ao seu desenvolvimento, ou seja, de proteínas, carboidratos e vitaminas, encontrados nos alimentos frescos e integrais.

Os hábitos alimentares da família podem ser também uma das causas de obesidade em crianças e adolescentes. Refeições muito fartas, lanches a toda hora e muitos doces contribuem para que os filhos passem a comer em excesso. Se você como guloseimas o tempo todo e fora de hora a criança também irá desejar o mesmo. Crianças aprendem basicamente pela imitação dos atos dos adultos que são suas referências.

Com alguns cuidados, você pode ajudar seu filho a manter o peso e, o mais importante, a não descuidar da saúde:

  • Para liberar as toxinas do organismo, incentive-o a beber pelo menos oito copos de água por dia.
  • Dietas-relâmpago não dão certo. Pular uma refeição também não. Quando o corpo recebe uma quantidade menor de calorias, automaticamente desacelera o ritmo empregado para queimá-las. O organismo age dessa forma a fim de conservar e usar todos os nutrientes.
  • Alimentos integrais e ricos em nutrientes costumam satisfazer o apetite. O pequeno descobrirá que fazer regime é mais fácil quando segue uma dieta saudável. Quando há produtos integrais no cardápio os níveis de glicose são mantidos e o desejo de comer é minimizado. Enquanto isso, os níveis de energia permanecem altos.
  • Ajude-o a diminuir o consumo de alimentos com aditivos, conservantes ou açúcar, bem como chocolate, refrigerantes, cafeína e doces.
  • Sirva um café da manhã balanceado, que inclua cereal feito de grãos integrais moídos. Isso mantém os níveis de açúcar no sangue e, de quebra, dá uma sensação de saciedade.
  • Ao comprar produtos industrializados, verifique no rótulo o número de calorias por porção, bem como o conteúdo de gordura, açúcar e sódio.
  • Monte um cardápio que inclua verduras, legumes, frutas e grãos integrais. As hortaliças devem ser cozidas no vapor ou cruas.
  • Evite pratos cremosos, com recheio ou molhos gordurosos. Não use muita manteiga, óleo, maionese ou molhos.
  • Use panelas de teflon para dispensar o óleo.

Como os gordinhos, geralmente, comem muito e depressa, uma das técnicas é fazê-los comer com a mão contrária: esquerda para os destros e direita para os canhotos. A dificuldade de manipulação leva-os a comer menos e a perceber que não precisam de tanta comida.

É importante saber que as gorduras, inclusive o colesterol, são importantes para o organismo, especialmente para as crianças, que precisam dela para completar a formação do sistema nervoso. Níveis abaixo do normal são prejudiciais. Cabe ao médico encontrar a justa medida, que para a maioria das crianças é a dieta normal, do dia-a-dia. Só para as crianças com problemas de predisposição genética é que talvez sejam necessárias dietas especiais, sempre sob orientação médica.

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